O Presidente da Câma Municipal de Machico, Ricardo Franco, enalteceu, no seu discurso comemorativo do dia do concelho, que hoje se assinalou, o papel no mundo e o orgulho que Machico tem por ter um filho da terra com o valor do Professor José Eduardo Franco.
Partilhamos um texto da Professora Luísa Paolinelli em homenagem ao fundador e presidente da Assembleia Geral da ADEGI:

Se os projetos forem ousados, quase impossíveis, mas importantes para a cultura, José Eduardo Franco entusiasma-se. Pensa grande, vai além. Congrega vontades à volta de uma ideia que, no âmbito da investigação, possa responder de forma dinâmica a uma história nova, de perspetivas poliédricas, globais, de cunho moderno. Enfrenta cada desafio como quando em menino, numa aldeia de Machico, convivia com escarpas, falésias, veredas e ribeiros, “como um trapezista sem rede”, como escreverá no texto publicado na rubrica de “Autobiografia” do Jornal de Letras (7 a 20 de agosto de 2013). Sob o signo do trabalho, o que fazia na terra e o que lhe trouxe o estudo, o hoje Investigador-Coordenador com equiparação a Professor Catedrático da Universidade Aberta, detentor das mais importantes distinções do Governo Português e das instituições brasileiras (foram-lhe atribuídas, em 2015, a Medalha de Mérito Cultural do Estado Português como reconhecimento dos serviços prestados à Cultura e à Ciência, em 2023, a Medalha de Antônio Paim, a Comenda mais importante da Ordem de Mérito do Pensamento Brasileiro, em 2024, a Medalha Dom Pedro IV – Pai da Pátria, no Grau Cavaleiresco de Comendador da Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura, e
recebeu, em “exequo” com Carlos Fiolhais, em 2018, o Prémio Mariano Gago de divulgação científica), aprendeu o rigor, a disciplina, a partilha de tarefas e o sacrifício.
O menino que, em 1979, quando a ribeira transbordou numa grande cheia e ameaçou a sua casa, escolheu salvar os livros da escola como o seu maior tesouro, e que, já jovem, caminhava uma hora a pé para chegar à escola ou se levantava às 5 horas da manhã para chegar ao liceu no Funchal, valorizava o que de mais importante temos: a memória e o estudo do que se escreveu e do que se fez como alicerce do presente e garantia de futuro. Nascido no ano em que os homens chegaram à lua, José Eduardo Franco imprime a curiosidade, a inquietação intelectual e o sonho a tudo o que faz. Pertencendo à geração que começa a escola precisamente quando acabava de acontecer o 25 de abril, não podia deixar de ser gaivota que voava, voava, numa liberdade que sabe que só existe com a consciência de quem somos que a investigação permite.
Profundamente humanista, e humano, adota uma postura ética e de responsabilidade perante o saber, ciente do que o que faz tem um efeito prático nas vidas individuais e na sociedade. O entusiasmo que sente é o de saber que desvendar o esquecido, o desconhecido, é uma forma de atuação no presente, a que permite que o véu da ignorância não nos faça perder o caminho e voltar a repetir erros.
É por isso que os estudos que empreendeu na área dos Estudos Globais são hoje modelo no estrangeiro, de França ao Brasil, com a História Global de Portugal, o Dicionário Histórico das Ordens ou o Dicionário dos Antis: a Cultura Portuguesa em Negativo a servirem de matriz para adaptações por outros investigadores à sua própria realidade. Diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta, Titular da Cátedra UNESCO de Estudos
Globais/CIPSH e membro da Academia de História, José Eduardo Franco é professor visitante na Universidade de Paris III e na Universidade Federal de Sergipe, no Brasil.
À atividade didática junta uma intensa contribuição científica, com a publicação de, entre outras obras, a Obra Completa do Padre Manuel Antunes, em 14 volumes, o Arquivo Secreto do Vaticano, editado em 3 volume, a Obra Completa do Padre António Vieira, em 30 volumes, e, com Carlos Fiolhais, dirigiu o projeto de investigação Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa. Coordenador do Grande Dicionário Enciclopédico da Madeira, é também um dos coordenadores da coleção Epopeias Madeirenses, em preparação. Nos últimos anos, tem vindo a dedicar-se ao conjunto de obras da Coleção Editorial “Histórias Globais”, numa perspetiva abrangente que privilegia o diálogo de tradições e faz do local o global.
Com diversos livros publicados, como O Mito de Portugal (2000), A Europa ao Espelho de Portugal: Ideia (s) de Europa na Cultura Portuguesa (2020), O Marquês de Pombal e a Unificação do Brasil (2024), em coautoria com Luiz Eduardo Oliveira, José Eduardo Franco tem colocado a sua formação académica ao serviço da democratização da cultura, da sua ampla divulgação e de uma reflexão necessária que faça de temas considerados eruditos saberes acessíveis a todos. É a essa missão de fazer do passado o momento de construção da contemporaneidade a que José Eduardo Franco se dedica, percorrendo mundo com os livros, vários, como os que um dia de cheia ajudou a salvar. A única diferença em relação a esse momento da sua história pessoal é que agora tem muitas pessoas com ele a quem incutiu o “ethos” do investigador.
Luísa Antunes Paolinelli








